sábado, 8 de março de 2008

Niassa


Mais um final do ano em África. Mais um 31 de Dezembro quente. Mais um reveillon passado na praia, com roupas brancas, leves, a fazerem sobressair os bronzeados de verão.
Foi por esta altura que a Filipa, a Joana e o Gonçálo me contaram a sua viagem-aventura ao Niassa, relatada com a ajuda das fotografias, em formato digital, que me foram mostradas no laptop, que tinham trazido de propósito para este efeito.
Faziam parte dos “contactos”, porque estavam em Moçambique através do Programa Contacto, iniciativa do ICEP, para colocar jovens portugueses recém-licenciados no mundo do trabalho, através de protocolos que permite aos eleitos ganhar experiência no estrangeiro. Os “contactos” iam e vinham, todos os anos e eu ia ganhando sempre novas companhias para conhecer o país, dado que os “contactos” tinham sempre um espírito aventureiro e queriam aproveitar o máximo durante o ano ou dois anos, no máximo, que tinham de contrato de trabalho em Moçambique. Estavam de passagem e tinham que aproveitar antes que se tornasse tarde e já estivessem de volta a Portugal.
Alguns ficavam pelos países para onde tinham sido enviados, acabavam por prolongar os seus contratos de trabalho, mas seriam sempre “contactos”. Era o caso da Filipa, que tinha chegado a Maputo há três anos com um contrato de um ano apenas.
Chegaram a Lichinga de avião. Na capital da província do Niassa, apanharam uma boleia para Metangula, junto ao lago do Niassa, o décimo maior lago do mundo. Não há transportes públicos, por isso é muito fácil encontrar uma caixa aberta de alguma carrinha que leve as pessoas até ao seu destino. Juntamente com batatas, pneus, cabritos e mais pessoas, fizeram uma viagem de mais de cento e cinquenta quilómetros, por estrada de terra batida. Nas fotografias, estavam amarelos avermelhados, do pó que os cobria, da ponta dos cabelos à ponta dos pés.
Chegados ao destino dirigiram-se ao hotel onde tinham reservado dois quartos. Só no Niassa, a província mais remota de Moçambique e a menos desenvolvida, se poderá considerar um conjunto de quartos dispostos em fila, como se de casas geminadas se tratassem, sem casas de banho e com um pequeno bar que servia de restaurante, um hotel!
Mas de acordo com os narradores, tudo parece aceitável quando se abre a porta do quarto e se depara com o lago. Uma verdadeira praia com ondas de crista branca.
- E banho? – Perguntei curiosa.
- Bem – respondeu a Filipa a rir – o banho era à moda macua (banho com um alguidar de água e um pequeno recipiente com o qual se pode molhar o corpo), mas as pessoas lá fazem tudo no lago, desde lavar a roupa, a loiça, lavar os dentes ou tomar banho, tudo se faz no lago!
Fiquei com muita pena de não ter conhecido o Niassa, foi a minha grande falha.

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