sábado, 8 de março de 2008

Ago00 Moçambique 1º impacto


Agosto de 2000

Após as minhas primeiras dez horas e meia de voo Lisboa-Maputo, o Airbus340 da TAP, aterrou em segurança no Aeroporto Internacional de Mavalane. Apesar do pouco movimento deste aeroporto, o avião estacionou a quase um quilómetro de distância do edifício, não muito grande, que dá acesso à placa asfaltada. Fomos dos primeiros passageiros da classe executiva a sair da aeronave, carregados com as diversas bagagens de mão, típico de quem faz a viagem inicial de mudança para outro país, para outro continente.
O primeiro impacto: uma onda de calor e humidade, que nos abafa a existência e nos provoca a vontade de nos despirmos de roupa e preconceitos. Ainda antes de me enquadrar no espaço físico, o sentimento era de mistério e curiosidade, pela terra de cores, também elas quentes, que ainda havia a conhecer.
Autocarros, não havia, por isso a caminhada foi penosa até à sala vip, onde alguém nos esperava.

Dos primeiros contactos com a cidade, através do vidro do automóvel, identifiquei subúrbios gigantescos, semelhantes a quaisquer outros bairros de lata, mas de enorme dimensão, onde habitam milhares de pessoas de pele escura, grandes olhos negros e enormes sorrisos brancos. Uma cidade parada no tempo há 30 anos, sem qualquer reabilitação ou preservação do parque imobiliário. Tentei imaginar o quotidiano de Lourenço Marques. Cidade bem mais bonita, organizada e desenvolvida do que a capital da metrópole. Uma cidade, ainda hoje caracterizada por um enorme fosso social, derivado do contraste do poder económico de menos de 10% da população, face à quase ausência de posses monetárias dos restantes 90%. É esta a realidade moçambicana.
As ruas são linhas rectas, desenhadas em papel quadriculado, com as avenidas a sobressaírem como riscos pintados a cheio. Uma esquadria perfeita, preenchida por edifícios construídos em meados do século XX.
Os odores misturam-se entre o cheiro do mar, do peixe, dos dejectos, das flores, da poluição dos velhos carros, da comida confeccionada ao ar livre, da terra. O cheiro a terra molhada é diferente em África. Não é melhor, nem pior, é simplesmente diferente.
Foi nestas descobertas que cheguei ao Hotel Cardoso, que seria a minha residência durante dezasseis meses! A sorte sorriu-me, pois trata-se do hotel com a vista mais bonita da cidade, sobre a baía e a baixa de Maputo, onde é possível assistir ao adormecer do sol, vermelho incandescente, a deitar-se sobre a neblina de tons cinzentos.

É um hotel acolhedor, com um serviço abaixo da média, mas impossível de repudiar, dado que todo o pessoal de serviço passou a ser a minha família mais próxima.
Após um brevíssimo descanso no hotel e apetrechados de notebooks, rumámos ao escritório provisório, tendo-se iniciado a maratona de preparação e abertura da empresa, identificando para sempre a violência do nosso primeiro dia em África.

Sem comentários: