Dezembro de 2000
No final de um dia a anteceder o natal, solicitei ao meu boss um dos carros alugados, ao serviço da empresa, e pela primeira vez, preparei-me para sair à noite, para um sociável com os meus novos amigos.
Entrei no Toyota Corolla branco que estava estacionado em frente à recepção do hotel, do outro lado da rua. Ao entrar no carro, entraram também mais duas pessoas, que me empurraram para o banco do pendura. A que entrou para o banco de trás, tapou-me os olhos, e a outra, sentada no banco do condutor, enquanto punha o motor a trabalhar, disse-me para fazer pouco barulho e encostou-me algo à cintura, que até hoje não percebo o que era, apenas suponho que tal objecto me poderia fazer um «furo». Primeiro pensei «Calma, isto é um assalto, muito comum neste país, poderão levar o que quiserem e vão me deixar em paz». Ao sentir o carro em movimento perguntei-me «Onde será que me vão deixar?». Um pouco mais tarde imaginava se iria sair viva daquela situação. Nessa altura já não conseguia falar e o meu silêncio às perguntas cada vez mais impacientes do assaltante ao volante, fez com este perdesse a calma e insistisse no tal do furo, agora a gritar. Os dois discutiram sobre o meu futuro e acabaram por abrandar a marcha do carro e ordenaram-me que saísse e não olhasse para trás, o que eu cumpri à risca. Nem cheguei a olhar o carro pela última vez, dado que nunca chegou a aparecer.
Quando finalmente abri os olhos, estava numa rua deserta, em frente a uma casa, onde à porta se encontrava uma rapariga, a minha salvação. Ela percebeu que algo se passara, mais que não fosse porque eu deveria estar branca, a roçar a transparência.
Nos meses seguintes jamais voltei a entrar num carro sozinha, sem que fosse num estacionamento com segurança ou que tivesse alguém, suficientemente robusto, que me acompanhasse, nem que o veículo se encontrasse a dois metros de distância. Todavia, a minha autonomia também ficou seriamente posta em causa pelos restantes elementos do grupo de trabalho, que passaram a primar ainda mais pela minha segurança. Sempre me disseram «Arriscas demais!». E os carros passaram a ser o meu trauma.
A primeira vez que pedi autorização para conduzir um 4x4, também este da responsabilidade da empresa, andei cem metros e fui bater no muro da esquadra da polícia, na Ponta do Ouro. O imóvel ficou sem um bocado e o jipe teve um arranjo de valor considerável. A minha condução em areia era ainda muito deficitária, o que aperfeiçoei ao longo de quatro anos de viagens por Moçambique.
Eu que nunca tinha tido nenhum acidente nos meus dez anos de condução, via-me agora envolvida em dois sinistros, com a mesma companhia de aluguer de carros.
No final de um dia a anteceder o natal, solicitei ao meu boss um dos carros alugados, ao serviço da empresa, e pela primeira vez, preparei-me para sair à noite, para um sociável com os meus novos amigos.
Entrei no Toyota Corolla branco que estava estacionado em frente à recepção do hotel, do outro lado da rua. Ao entrar no carro, entraram também mais duas pessoas, que me empurraram para o banco do pendura. A que entrou para o banco de trás, tapou-me os olhos, e a outra, sentada no banco do condutor, enquanto punha o motor a trabalhar, disse-me para fazer pouco barulho e encostou-me algo à cintura, que até hoje não percebo o que era, apenas suponho que tal objecto me poderia fazer um «furo». Primeiro pensei «Calma, isto é um assalto, muito comum neste país, poderão levar o que quiserem e vão me deixar em paz». Ao sentir o carro em movimento perguntei-me «Onde será que me vão deixar?». Um pouco mais tarde imaginava se iria sair viva daquela situação. Nessa altura já não conseguia falar e o meu silêncio às perguntas cada vez mais impacientes do assaltante ao volante, fez com este perdesse a calma e insistisse no tal do furo, agora a gritar. Os dois discutiram sobre o meu futuro e acabaram por abrandar a marcha do carro e ordenaram-me que saísse e não olhasse para trás, o que eu cumpri à risca. Nem cheguei a olhar o carro pela última vez, dado que nunca chegou a aparecer.
Quando finalmente abri os olhos, estava numa rua deserta, em frente a uma casa, onde à porta se encontrava uma rapariga, a minha salvação. Ela percebeu que algo se passara, mais que não fosse porque eu deveria estar branca, a roçar a transparência.
Nos meses seguintes jamais voltei a entrar num carro sozinha, sem que fosse num estacionamento com segurança ou que tivesse alguém, suficientemente robusto, que me acompanhasse, nem que o veículo se encontrasse a dois metros de distância. Todavia, a minha autonomia também ficou seriamente posta em causa pelos restantes elementos do grupo de trabalho, que passaram a primar ainda mais pela minha segurança. Sempre me disseram «Arriscas demais!». E os carros passaram a ser o meu trauma.
A primeira vez que pedi autorização para conduzir um 4x4, também este da responsabilidade da empresa, andei cem metros e fui bater no muro da esquadra da polícia, na Ponta do Ouro. O imóvel ficou sem um bocado e o jipe teve um arranjo de valor considerável. A minha condução em areia era ainda muito deficitária, o que aperfeiçoei ao longo de quatro anos de viagens por Moçambique.
Eu que nunca tinha tido nenhum acidente nos meus dez anos de condução, via-me agora envolvida em dois sinistros, com a mesma companhia de aluguer de carros.
Sem comentários:
Enviar um comentário