segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

BYE BYE BEETLE

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

DIÁRIO DE MOTA COM MEDO




















Aqui vai um diário de mota um bocado deslocado.

Ultimamente, as minhas aventuras de Honda CFB 250cc, passam mais pelo terror do que pela graça da novidade despreocupada, que pautava os diários de há 2 anos atrás.
Parece impossível, agora que já tenho a experiência de 2 anos de viagens diárias casa-trabalho-casa, 2 invernos de calças impermeáveis, 2 verões de agradáveis aragens para disfarçar o calor e 2 anos sem saber o que é gastar tempo no trânsito, é que me ponho com estas idiotices de ter receio de voar na ponte e de cair quando estou a estacionar.
Não me importo muito de cair, porque normalmente caio quase parada, o que não dá azo a que me magoe sequer. O que é chato é não conseguir levantar a mota sozinha e ficar dependente de ajuda, o que pode ser muito nice se aparecer um rapaz prestável e com força, mas é muito ingrato quando não aparece ninguém, como no outro dia, que fiquei 45 min na minha garagem à espera que alguém saísse e me ajudasse a levantar a mota!
O principal problema é o vento, esse terrível elemento que aparece sem aviso e sem obedecer às previsões do Instituto de Metereologia e ainda por cima escolhe o Rio Tejo para fazer corrente de ar.
Esta manhã, lá vim eu a ser empurrada lateralmente, a fazer uns malabarismos com a mota meio de lado, para ver se não ia contra a protecção lateral da ponte. Foi assustador e deu para suar um bocado. Que seca!
É que depois falo com a Sónia e ela não teve problema nenhum nem achou que estava muito vento (apesar do alerta amarelo por causa do vento, que só percebi que existia depois de chegar ao banco). Granda maluca!
“talvez seja porque tu e a mota são mais leves”. Talvez, mas como é que eu tenho coragem para trocar a mota por uma CBF 500cc ou pela Hornet 600cc, se mal posso com esta 250cc?
Para tentar resolver o problema vou fazer um curso de condução defensiva (talvez ajude a defender-me do vento) e comprar um casaco com protecções (coisa que nunca comprei, porque nunca condiz com nada). A estratégia é render-me à segurança e deixar de lado a moda, pelo menos até me sentir menos mariquinhas.
Vamos ver se consigo ultrapassar esta fase e recuperar a confiança nas duas rodas!
No entretanto, se virem alguma mota a andar na diagonal em cima da ponte 25 de Abril, afastem-se. E se virem alguma miúda a tentar levantar uma mota do chão, please, ajudem! (já começa a ser repetitivo!).
Na foto é a Luana a posar para mostrar aos amigos na escolinha, em cima da moto da tia Rita!

domingo, 16 de novembro de 2008

O SAMUEL E A MÃE

É extraordinário!

domingo, 9 de novembro de 2008

NARCISISTA


Foi o que um amigo meu (acho que foste tu Markus!), disse quando visitou a minha casa e viu muitas fotos minhas espalhadas. "Vivo cá não?!". Mas nem é totalmente justo, porque as pessoas que me são mais queridas também se encontram espalhadas pelas molduras.

Mas bom, porque não tenho fotos actualizadas do Samuel e porque esta espécie de blog já não vê uma publicação desde o mês passado (vamos ver se consigo manter o ritmo de uma por mês!), ficam mais umas fotos minhas :)





segunda-feira, 13 de outubro de 2008

SELVA NA CIDADE

Esta manhã acordei com o dia cinzento e molhado e decidi deixar a minha amiga de duas rodas na garagem. Não tanto porque ela se constipa, porque a chuva não lhe faz mal, pelo contrário, os dias de chuva e as revisões são as únicas oportunidades que ela tem de tomar banho! Mas mais porque os primeiros dias de chuva tornam as estradas como pacotes de manteiga, e isso, aliado à falta de civismo dos condutores das quatro rodas (eu sei que por vezes não é por mal, apenas não lhes passa pela cabeça a existência dos veículos de duas rodas que têm a mania de passar entre os carros), eleva o risco para as motas.
Contudo, é sempre nos dias de chuva que a mota é mais útil dado que os arredores da cidade ficam caóticos. Este manhã, a fila na A2 em direcção à ponte 25 de Abril tinha 15 km!
Lá fui de beettle até à estação de comboios do Pragal, que fica a 5 min. de carro da minha minha casa. Andei 100m. e fiquei parada. O condutor que estava atrás de mim, deve ter achado que conseguia encontrar outro acesso desimpedido, saiu da organizada fila de carros e bum. Ouvi os plásticos a bater no carro e depois a raspar o asfalto e, pelo espelho retrovisor, vi a mota a derrapar pela faixa contrária e o condutor a ser projectado para o passeio do lado contrário. Automaticamente, olhei em frente e, aliviada, vi que não havia veículos a circular no sentido contrário, pelo menos até onde a minha vista alcançava. Mais aliviada ainda, vi o rapaz do capacete levantar-se de um salto e gesticular com os braços no ar. Uff, estava bem, mas chateado! Já o condutor do carro, saiu e verificou os estragos no seu veículo antes de se dirigir ao motard. Sem comentários!
Até me fez lembrar o acidente da Sónia, que foi mais ou menos parecido, embora ela tenha ficado um bocado amassada e com a consciência de que as protecções do seu casaco novo, tiveram um papel muito importante e já se amortizaram completamente.
Também me podia lembrar do episódio que vivi a semana passada, quando, já no centro de Lisboa, parei num semáforo de um cruzamento, ao lado duma carrinha de caixa fechada. O sinal ficou verde para nós e o condutor da carrinha ficou na indecisão de me deixar passar, e eu, naquele vai não vai, desequilibrei-me e caí. O senhor, provavelmente a pensar que eu ainda o ia culpar pela queda, arrancou a toda a velocidade e deixou-me ali, com a mota no chão. Se ele soubesse que eu sou uma aselha, que me farto de cair quase parada e que não tenho força para levantar a mota do chão, acho que tinha ficado onde estava e ajudava-me. E a cena torna-se quase hilariante, como sempre: eu, em pé e de capacete na cabeça, a olhar para a mota deitada no chão, ambas à espera de uma alma caridosa e com alguma força. E como sempre, não demorou muito tempo até chegar ajuda. Desta vez foi um homem muito helpfull e muito interessante, que parou o carro no meio da estrada, veio levantar a mota e não ouvi nenhuma reclamação vinda da fila de trânsito que se formou atrás do carro parado em plena via. Ficámos as duas muito contentes, só nos esquecemos de pedir o número de telefone!
Bom, o episódio desta manhã não envolveu uma mulher interessante a sair do carro a correr para acudir ao pobre do rapaz que ficou com a mota desfeita, mas pelo menos, também não envolveu feridos.
Depois disto, demorei mais meia hora até chegar à estação, esperei mais 10 min pelo comboio, lá vim espalmada no meio da multidão e cheguei ao banco às 9h, a pensar nos 15 min que demoro a chegar quando venho de mota!
É a vida na selva que é o trânsito em Lisboa.

domingo, 21 de setembro de 2008

SAMUEL



Nasceu no dia 16 de Setembro de 2008, às 12:19 a.m., com 4.510 kg e 52 cm, de cesariana, o que foi uma sorte para a Filomena, a minha irmã! Chama-se Samuel e é o meu sobrinho!

sábado, 23 de agosto de 2008

ANNA BESSONOVA

Tenho um novo ídolo. Chama-se Anna Bessonova, é ukraniana, graciosa, flexível, expressiva, a princesa da ginástica rítmica mundial. Hoje ganhou a medalha olímpica de bronze na modalidade de ginástica rítmica individual, atrás da russa Evgeniya Kanaeva , e da búlgara Inna Zhukova , mas na minha opinião foi a melhor. Não, não sou gay, estou apenas de volta à minha adolescência, quando cobria as paredes do meu quarto com posters das campeãs de ginástica, tanto desportiva (agora denominada artística), como rítmica, que pratiquei até aos meus 18 anos.
Vale a pena dar uma vista de olhos à sua participação nestes jogos olímpicos de Pequim, especialmente às provas de massas e fita. Ela é brilhante! Parabéns Anna!

domingo, 17 de agosto de 2008

VENCEDORES E VENCIDOS

Beijing 2008. De 4 em 4 anos, os jogos olímpicos presenteiam-nos com bons e emocionantes momentos em frente à tv. Enquanto a maior parte dos cidadãos do mundo está em pleno gozo do merecido descanso anual, os atletas olímpicos estão numa tensão brutal, à procura da consagração, muitos deles no exame final que dará sentido aos irreversíveis anos, meses, dias e horas de árduo trabalho, com o objectivo de ter uma medalha olímpica pendurada ao pescoço, enquanto ouvem o hino do seu país e posam para a foto que tornará o momento eterno. Fico contente pelos eleitos, mas solidária com todos aqueles que não conseguem alcançar a glória, que expressam um devastador desalento, uma gigantesca frustração pelo esforço que não foi suficiente nem recompensado. Como tudo na vida, a lei do vencedor e do vencido prevalece.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

ENCANTAMENTO

Eu tb gosto mto da palavra encantar!
É melódica e associada ao deslumbramento com algo ou alguém que nos fascina.
Eu fico encantada com a praia, com o sol, com a temperatura morna no final de um dia de Verão ou com metade de uma coca-cola gelada e com gelo, quando me sinto quente. Vivo encantada com a minha irmã, com a Cleopatra, com a minha casa, o meu beettle, a minha mota, os meus livros. O conceito é, todavia, efémero e reactivo à novidade.
A palavra ganha força quando nos encantamos pela 1ª vez por alguém, provavelmente porque nos assalta o medo do desencantamento. O processo roça o incontrolável, mas excluir a palavra do dicionário significa não correr o risco do desencantamento e nunca viver o encantamento.

domingo, 15 de junho de 2008

SOCIALIZAR COM OS LIVROS

Nesta fase da minha vida, socializar não é o meu forte. Admito que não há nada como socializar com as pessoas, mas há outras formas interessantes de socializar e uma das minhas preferidas é a leitura.
Adoro entrar num romance, sentir o meio envolvente da história, envolver-me no enredo e socializar com as personagens. Acompanho os feitos, construo os sonhos, simpatizo ou ganho aversão aos protagonistas, deixo que a felicidade se apodere de mim ou choro, e independentemente do final, a sensação é sempre âmbigua: satisfação por chegar ao fim e tristeza por ter terminado. É óbvio que as sensações são mais fracas ou mais intensas consoante o livro, mas para chegar ao fim é porque já me envolvi e já não consigo parar de ler até à última página. Quando assim não é, não chego ao final do primeiro capítulo e, normalmente, fecho o livro e coloco-o na prateleira, bem arrumado, para nunca mais o abrir. Mas são poucos os que têm este destino. Júlio Dinis, Almeida Garret e António Lobo Antunes me desculpem. Eu tentei, precisamente porque sei o valor literário que têm, mas não consegui. Kafka, com excepção da "Metamorfose", também não estive à altura. Mia Couto, com excepção do "Voo do Flamingo" e das crónicas que tanto me tocam, também não estão à cabeceira. Mas não me ocorrem mais autores nem mais títulos que não tenha conseguido alcançar até ao momento.
Não sou um exemplo de leitura, mas basta-me empatizar com a narração e a leitura torna-se uma das minhas melhores partes do dia. E o melhor é que os livros não se esgotam!

domingo, 8 de junho de 2008

NA TERRA DOS FARAÓS

Esta não foi uma viagem de sonho, nem se pode apelar de aventura, pois tudo correu como planeado, sem qualquer contra tempo, a não ser o calor sufocante que me apanhou de surpresa.
De qualquer das formas acabei por escrever um pequeno “journal”, nos intervalos das visitas às pirâmides, aos túmulos, aos templos e às barragens. Muita pedra e pouco sono.
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2JUN08
LUXOR
11:25
Chegámos há pouco a Luxor, antiga Tebas, ex-capital do Egipto antigo. Estou sentada na esplanada do deck do Kon-Tiki, um cruzeiro do Nilo, de luxo, e à minha frente ergue-se o templo de Luxor, ou o que resta dele. Temperatura a rondar os 45 Cº, nunca menos, e a brisa é fraca, quente e húmida. Ao contrário do Cairo, aqui não se ouve praticamente nada a esta hora do dia, como se tudo estivesse suspenso. Os barcos estão ancorados, as pessoas protegidas do calor, as palmeiras hirtas, o Nilo parece um espelho ligeiramente enrugado e o trânsito és escasso. Tudo praticamente imóvel. De vez em quando chega-me ao ouvido um distante som de música árabe e é só.
O empregado acabou de me cumprimentar em árabe, diz que pareço egípcia. Não é o primeiro. De facto o meu cabelo está claro, mas não engana ninguém, embora as madeixas louras estejam muito bem feitas. É quase desconcertante. É habib práqui, nefretiti dos portugueses práli...
Comecei aqui as notas sobre esta viagem porque foi o primeiro bocadinho que tive para escrever, apesar de já ter acabado o único livro que trouxe para ler. Era pequeno para não pesar muito, e li a maior parte no voo de 6 horas Lisboa-Cairo. Depois o entusiamo levou-me a tirar horas ao sono para o terminar.
A chegada é a mesma em qualquer parte da África equatorial: a onda de calor que nos empurra novamente para dentro do avião.
Avistei uma quantidade de pequenos aviões com o símbolo PAS, qualquer coisa como Petroleum Air Services. Nem sabia que o Egipto tinha petróleo, mas também parece que nem é suficiente para o consumo interno dos 78 milhões de habitantes deste país, 17 dos quais na capital e os restantes ao longo do Nilo, nos 6% de território habitável deste país. A visão aérea do Nilo é bastante esclarecedora: um tapete bege, cortado por uma passadeira verde. À medida que perdemos altitude, nota-se um risco grosso mais escuro no meio: o Rio Nilo.
O Cairo. Uma cidade africana. Confusão de trânsito, pessoas e animais. O caos organizado, como costumo dizer. O caos para quem está de fora, e organizado para quem o vive. Uma cidade do médio oriente. Souques, homens nos cafés a beberem chá para refrescarem e a fumarem cigarros ou chicha, mulheres tapadas, pequenos telheiros nos passeios das avenidas mais largas, para ajudar a proteger do sol e vida nocturna intensa, precisamente porque já não há sol. E por falar em sol, vim um pôr do sol que, suponho, me vai ficar na memória, como alguns que já colecciono. A cidade dos mortos em baixo e uma bola incandescente em tons rubros a descer sobre o manto de poluição e humidade, a desenhar os topos das mesquitas e seus mineretes. Fabuloso! Contudo, apesar desta maravilhosa visão, a única coisa que os restantes turistas do grupo comentavam era como eram horríveis as casas e os prédios que se avistam por todo o Cairo.
Há duas razões para o facto dos prédios parecerem miseráveis e inacabados. Os mais pequenos pertencem a famílias que os vão acrescentando na vertical para alojar os descendentes. Os filhos constroem um piso acima dos seus pais e os seus filhos outro e por aí fora, sem nunca darem por terminado o edifício, que fica com os ferros dos pilares a descoberto numa placa sem telhado. E isto eu já sabia, só não compreendia porque razão os prédios grandes e altos se apresentam literalmente inacabados, ou por fora ou por dentro, mas normalmente por fora, ou seja, não estão pintados nem minimamente arranjados no exterior, onde muitas vezes se vêem os tijolos, mas são habitados. A razão até é simples, para não pagarem impostos ao Estado. Enquanto o prédio não se considerar acabado não se paga imposto. Actualmente parece que o Estado impõe condições e prazos de construção quando vende um terreno, contudo, se a transacção é entre privados, não há regras legalmente impostos.
É uma forma de vida, mas não se trata de sobrevivência ou miséria, como lhes chamam as pessoas que viajaram comigo até esta manhã. Talvez nunca tenham visto pobreza e não tenham muita noção da diferença entre pobreza autêntica e pobreza de espírito.
Não estava muito longe da verdade quando ao comprar esta viagem, imaginei que iria integrar um grupo de 3ª idade, com tours organizados, hotéis de 5 estrelas e cruzeiros de luxo. Das 11 pessoas que viajaram no mesmo voo que eu, 9 ficaram noutros hotéis e barco, enquanto que eu e um casal na casa dos 60 anos de idade, ficámos num hotel de 5 estrelas superior e embarcámos há pouco no kon-tiki.
Até agora visitámos o Cairo e viajámos para Luxor juntos, mas os próximos quatro dia serei só eu, o Agostinho e a Matilde, acompanhados pelo nosso guia, o Hamed, que nos levará a visitar os templos, túmulos, esfinges e outras estátuas e monumentos até Abu Simbel.
O casal Medeiros vive em Beja e tem quatro filhos e um neto. São reservados e calmos, mas muito agradáveis. Há pouco percebi que o Agostinho é médico pediatra, quando ligou o telemóvel para registar o meu número e me informou que nunca está ligado ou passaria o tempo a atender chamadas das mães dos seus pequenos pacientes. Joga golf, faz ski e gosta de fotografia. Nada me é estranho, por isso temos nos dado lindamente. A Matilde é uma professora primária reformada. Sempre muito sossegada, acompanham-me no desconforto do intenso calor.
Agora tenho que ir para visitar o templo de Karnak e de Luxor.
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4JUN08
ESNA
22:00
Estou novamente no deck, que já só se torna suportável depois de cair a noite. Tinha consciência de que esta viagem era muito busy, cheia de visitas e horários apertados, mas, no final do 4º dia, estou exausta!
No sábado, depois de fazer o check-in no hotel Safir, já no final da tarde, só tive tempo de tomar um duche e saí, acompanhada pelo Rami, um dos representantes do operador turístico. Tomámos um expresso numa cafeteria (como lhes chamam), perto do hotel, no centro do Cairo, e seguimos para o Vale de Gize, onde fui assistir a um espectáculo de luz e som, projectado nas pirâmides. Como chegámos mais cedo e enquanto esperámos pelo quatro outros elementos do grupo que também iam assistir ao show, sentámos-nos na esplanada de um café, numa rua muito movimentada, e ali ficámos, rodeados por homens curiosos, e beber chá de menta e a fumar chicha com sabor a maçã.
Depois do espectáculo o Rami convidou-me para jantar num restaurante típico egípcio e foi a refeição que mais me agradou até agora. Sentámos-nos na esplanada e como se alguém tivesse tocado no interruptor, as pirâmides iluminaram-se. É verdade, jantei com vista para a pirâmide de Keops.
O regresso ao hotel deu para observar o reboliço que a cidade vive até altas horas, entre esplanadas cheias, trânsito intenso e lojas abertas. Deitei-me à 1:30 e fui acordada às 5:30, para um dia muito preenchido.


















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Visita às pirâmides de Gize, incluindo a esfinge, galeria do papiro, almoço num restaurante flutuante, museu do Cairo, passagem pelos principais bairros da cidade, passeio pelo mercado de Al Kalili e jantar num restaurante tipicamente árabe familiar, rico e piroso. Quando cheguei ao hotel “não podia com uma gata pelo rabo”!

No 3º dia, acordar novamente de madrugada para apanhar o avião para Luxor, onde chegámos ontem ao final da manhã.

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Depois de conhecer a minha magnifica cabine, com a minha cama super king size e a minha enorme janela para vislumbrar o Nilo, almoçámos on board e saímos para recebermos uma aula sobre o maior templo do mundo, o Templo de Karnak, seguido do Templo de Luxor, tudo na margem oriental do rio, onde se encontram os templos dos vivos e da adoração do povo aos deuses. Esta manhã rumámos à margem ocidental do Nilo, onde se encontram os túmulos dos mortos. Colosso de Memnon, Vale das Rainhas, Vale dos Reis e o templo mandado construir pela rainha Hutshepsut, que perdeu o poder e teve que partilhar a governação do Egipto com o seu enteado, o faraó qualquer coisa III, e irmão do filho da rainha e do seu meio irmão, o qualquer coisa II. Uma grande promiscuidade portanto!
Os 45 Cº às 11h foram determinantes para o cansaço que sinto. Vou fechar os olhos porque daqui a poucas horas tenho que despertar para mais templos.
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5JUN08
ASSUÃO
23:00
Deitei-me com as pernas mais altas para ver se ajuda a desinchar os pés, que estão anormalmente empolados pelo esforço das caminhadas sob as elevadas temperaturas, mas o barulho dos espanhóis e franceses que dançam trajados a rigor, numa festa árabe no bar do 4º piso, não ajudam ao descanso.
Hoje visitámos os templos de Edfu e de Kom Ombo, este último já ao final da tarde e ao som das rezas das mesquitas.

Estamos agora a chegar a Assuão, onde amanhã vamos visitar a grande barragem que originou o maior lago artificial do mundo, o Lago Nasser para os egípcios e o Lago Núbio para os sudaneses; a pedreira de mármore rosa, onde os antigos egípcios davam forma aos gigantescos oblíscos, um dos quais no centro da praça Concorde em Paris, mesmo em frente ao Louvre, tendo os franceses demorado 6 meses para o retirar do Templo de Luxor e transportá-lo para França, a troco de um famoso relógio de parede, que nunca funcionou (as coisas que eu aprendo!); e o Templo de Philae, um dos vários que, a pedido da UNESCO, foram transladados para locais a salvo das águas do lago criado pela barragem.
Depois o tempo vai ser ainda mais apertado, pois na véspera do regresso a casa, vamos até Abu Simbel, partindo de Assuão às 3:00, percorrer cerca de 600 km até ao início da tarde, apanhar o voo para o Cairo, de onde sairemos às 4:00 do dia seguinte, rumo a Lisboa.
A festa parece que já acabou, o barco acabou de atracar e eu vou dormir.


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E foi mesmo assim.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

AVENTURAS POR PORTUGAL I

Saímos cedo rumo ao Norte, e para não ficarmos retidos no trânsito matinal da Ponte 25 de Abril, optámos pela Vasco da Gama e lá seguimos. A1, Porto, Braga, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, onde almoçámos, Ponte da Barca, e entrámos no Parque Nacional Peneda Gerês. Passámos a barragem do Lindoso e a partir daí foi cavalgar pela Serra da Peneda, seguindo as indicações, perguntando a alguma vivalma que se cruzasse no caminho ou apenas por pura inspiração, lá fomos avançando em direcção ao Lugar da Peneda, onde se encontra o Santuário da Nossa Senhora da Peneda. Não foi fácil lá chegar, até porque 25km de serra criam a ilusão de que são 50km e por isso pensámos muitas vezes que estávamos perdidos e já a entrar em Espanha. Mais o meu pai, que influencia negativamente qualquer ambiente com algum positivismo. “Devíamos ter virado à esquerda no último cruzamento”, “Já devíamos ter chegado”, “Não devemos estar no caminho certo”. É de tirar a paciência a um santo, mas o que fazer?! É meu pai, o único que tenho, já com 80 anos, a completar no próximo mês de Novembro, e já não vai melhorar. Comprovo que a vida humana segue um gráfico com o formato de uma pirâmide, e no final da vida, física e mentalmente, volta-se à infância. O corpo fica debilitado, perde-se a visão e a audição, a capacidade de raciocínio cai o comportamento não é muito diferente do de uma criança de 8 anos, que precisa de ser protegida como tal.














E lá chegámos ao vale onde se encontra o Santuário, com as mais de uma dezena de pequenas capelas, a ladearem as mais de uma centena de degraus, até à igreja. Num patamar intermédio entre as escadarias, o Hotel da Peneda, com um interior muito acolhedor e confortável, face às fachadas exteriores em pedra, perfeitamente enquadrado na paisagem local. No cimo de tudo isto um enorme rochedo por onde cai a água como uma cascata. O Lugar da Peneda é de facto muito bonito que merece ser visitado, de preferência com tempo e gosto pelas caminhadas, pois é uma zona propícia para explorar os trilhos da Serra da Peneda.

No dia seguinte fizemos-nos à estrada novamente, desta vez em direcção ao sul e até Oliveira do Hospital.
Os meus tios e prima esperavam-nos no lugar onde vivem, que é em pleno campo. Nem sequer se trata de uma vila ou aldeia, é uma quinta num vale chamado Areeiro, ao qual se tem acesso por uma terra chamada Loureiro, um pequeno conjunto de casas de granito à beira de uma estrada estreita de alcatrão antigo e bastante comido.
No Areeiro existem algumas casas (não chegam a uma dezena), rodeadas de cultivos e pinheiros. Faz-me muita confusão como é que a correspondência chega ao destinatário correcto, uma vez que não existem números de portas, apenas umas quantas caixas de correio à beira da estrada (agora asfaltada), sem qualquer identificação. “Os carteiros são de cá e conhecem toda a gente”, explica-me a minha prima.
A casa da minha tia é muito antiga, com paredes muito grossas, mas já foi aumentada várias vezes para construir um anexo de dois quartos, zonas de arrumação para a lenha e um fumeiro, onde agora estão pendurados os enchidos frescos provenientes da matança do porco que ocorreu há umas semanas atrás. A lenha está sempre a arder, noite e dia, até que os chouriços e as farinheiras fiquem no ponto. Há ainda a casa do Link, o serra da estrela gigante, para o qual e minha prima cozinha grandes panelões de carne, porque ele não se contenta só com a ração.
Acordar no campo é uma espécie de dádiva para quem adormece e acorda o ano inteiro dentro de uma prateleira de um dos armários encavalitados nas grandes cidades. Como dormi no sótão, o piar dos passarinhos bebés nos ninhos feitos entre as telhas do telhado foi uma constante toda a noite. Quer dizer, não deixei de dormir por causa disso, mas acordei com o mesmo que som que me adormeceu. Desci ao pequeno terraço do 1º andar e matei as saudades de tomar um café fresco e espreguiçar com o vale, com as galinhas, os coelhos, a Clara e o Nicolau, i.e., a mão do Link e a gata da vizinha, e com as gentes daquele lugar, que já acordaram há muito e já vão a meio da lida diária do campo. Rijas e com a pele curtida pelo sol e pela geada, parecem-me felizes na sua simplicidade. Pelo que percebi das respostas dos meus tios às minhas perguntas curiosas sobre a vida alheia, há de tudo: vidas permanentes, casas de férias, palheiros reabilitados e transformados em habitações de casais ingleses e holandeses, que animam a vida dos habitantes mais antigos, pela curiosidade e pela engraçada forma de comunicação, enquanto ambas as partes não aprendem o básico das línguas que lhes são estranhas. Mas há também os casais jovens, como a família da Joana e do Rodrigo, 18 e 10 anos, respectivamente. Estudam, navegam na net, jogam playstation, vêem televisão e ainda sabem que as galinhas não nascem nem crescem nos super-mercados. “Mas hoje em dia já é tudo diferente”, diz o meu tio, “já não vão a pé para a escola, a carrinha vem buscá-los pela manhã e trazê-los no final do dia”. Há outras coisas que permanecem iguais, como a carrinha do pão, que chega bem cedo, com a sua buzina de aviso, e o pão fresquinho para o pequeno-almoço!

domingo, 25 de maio de 2008

TRAVELLING ALONE

Pois é, viajar é muito bonito, com companhia. Viajar só, não sei se é tão divertido. Até gosto de viajar sozinha, mas quando tenho um objectivo especifico ou quando domino os locais. Agora, viajar à descoberta, sozinha, parece-me sem sentido. Não ter ninguém para partilhar as emoções ou para discutir as melhores opções a tomar, soa-me a pobreza de espírito. Apesar de já ter vivido tantas aventuras, algumas delas só, procuro perceber porque me aflige viajar sozinha. A quem vou dizer “UAU, que bonito!”?
Bom, mas como quem não tem cão, caça com gato (que é uma expressão à qual acho piada), se tenho disponibilidade, mental, temporal e financeira, tenho que avançar, mesmo que não haja mais ninguém que eu conheça que tenha. “Nessa altura é impossível”, “Não tenho dinheiro”, “Não me apetece”. Paciência!
Como não gosto de marcar programas com muita antecedência, acabei por decidir avançar com o vá para fora lá fora, uma semana antes da partida. Norte da Índia era o meu objectivo inicial quando entrei na agência de viagens, daquelas muito conhecidas, onde se pode ingressar num programa do tipo excursão à Chamusca com um qualquer Centro de 3ª Idade. “À Índia, com uma semana de antecedência é muito complicado”, avisou-me o simpático senhor que me recebeu. E aceitei a ideia assim que percebi que os suplementos a acrescer ao já identificado suplemento de alojamento single, encarecia a viagem em quase 50%. Alternativa: Egipto. E lá vou eu, com um programa intenso de pirâmides, túmulos e templos à beira do Nilo. Acompanhada, nunca faria este destino desta forma, mas é o gato que tenho. Não é uma viagem de sonho, mas parece-me uma alternativa simpática, para mim e para os milhares de turistas com quem me vou cruzar. A ver vamos!
A Índia, o Japão, a Jordânia e Israel, vão ter que esperar.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

PATINHAS


Estas são duas das quatro patinhas de felino que tatuei entre entre o pulso e mão! A maior parte das pessoas que repara diz que é irreverência, mas no fundo acho que espelham o medo do irreversível. É curioso though, porque a vida tem prazo e só se vive uma vez, right!

EUROVISÃO

Sou eu que estou a ficar velha ou o festival da canção da eurovisão, ou lá como é que se chama, vai de mal a pior? Primeiro achei estranho a velha e clássica Europa não estar representada, mas depois percebi que estava a ver uma espécie de semi-final dos piores, já que houve quem tivesse entrada directa para a final. E acho muito mal Portugal não ter sido um dos escolhidos, directamente e sem passar pela casa partida, para concorrer com os melhores, dado que este ano, me parece mesmo que somos os melhores! Talvez seja a primeira vez que torço pela música de Portugal, já que não sou do tempo da Madalena Iglesias ou da Simone de Oliveira.
Fico arrepiada de ouvir a Vânia a cantar, acompanhada pelos expressivos outros OT’s, e de facto fico a pensar que a madeira é um case study, além do Alberto João Jardim, também saíram de lá o Cristiano Ronaldo e a Vânia Fernandes! ... e Portugal acabou de ser apurado para a final! Estava a ver que não!
Estando eu na sala, com a tv ligada e sem ninguém para comentar quão horríveis eram as músicas, agravadas pelas pirosas coreografias, só me restou a alternativa de escrever para desabafar a minha agonia. Aqui estão todos estes novos países da Europa de Leste, que faziam melhor se estivessem preocupados em sair, definitivamente, da guerra fria, em vez de fazerem estas figuras tristes. Faz uma pessoa parte da União Europeia, com estatuto de cidadão europeu, e tem que levar com a Eurovisão e com as Bielorrússias e as Ukranias, a fazerem-se representar por umas raparigas louras e uns senhores de cabelos compridos, a cantarem em inglês, ao som do disco sound, que mais parece a banda sonora dos bailes lá da terra da minha mãe, que não é qualquer terra, mas uma terra que faz parte da beira alta, onde as pessoas falam axim. Realmente!

080522/RS

terça-feira, 20 de maio de 2008

FOLHA DE PAPEL

Decidi que valia a pena colecionar este pensamento de uma folha de papel branco, que o Nuno me enviou, a propósito de alguém, que parece muito complicado.
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Disse uma folha de papel branco :
"Pura fui criada e pura permanecerei para sempre. Antes ser queimada e convertida em brancas cinzas, do que suportar que a negrura me toque ou o sujo chegue junto de mim".
O tinteiro ouviu o que a folha de papel dizia, e riu-se em seu escuro coração. Mas não ousou aproximar-se dela. E os lápis multicoloridos ouviram-na também, e nunca se aproximaram dela. E a folha de papel, branca como a neve, permaneceu pura e casta. Para sempre, pura, casta e vazia.
(Khalil Gibran)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

COMENTÁRIOS

Não tenham medo de fazer comentários. Era giro e eu gostava. É só fazer um clique no final de cada mensagem (no canto inferior direito), em vez de me enviarem mensagens por e-mail, exactamente com comentários sobre estes textos. Boa?!

DIÁRIOS ANTIGOS SOBRE DUAS RODAS

E porque andei a limpar a minha caixa de correio electrónico, ainda descobri estes pequenos relatos dos meus primeiros tempos sobre duas rodas, que enviava por e-mail, assim que chegava ao trabalho, e me sentia a salvo, logo após as cruzadas matinais contra o trânsito!
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From: Rita Maria Pestana Ferreira Salteiro
Sent: algures em Agosto de 2006
Subject: diário de uma vespa

Bom dia,
É só para avisar as pessoas de quem gosto, que hoje foi o meu primeiro dia de motard na cidade de lisboa e correu tudo bem (tive que pedir ajuda a um senhor que ía a passar para estacionar a mota, mas fora isso, está tudo under control!). Por isso podem conduzir com perfeita normalidade que, pelo menos eu, não vou causar problemas no trânsito lisboeta. Mas se virem alguém com dificuldade em colocar o descanso central para estacionar a moto, por favor ajudem!

Tenham uma boa semana.
Bjnhos
Rita PS: por enquanto demoro 30 min. casa-trabalho (15 min no percurso e o restante para colocar o descanso!)

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Sent: sexta-feira, 1 de Setembro de 2006 9:51
Subject: diário de uma vespa
bom dia a todos,
hoje tenho q partilhar com vocês o meu percurso casa-trabalho na minha pele de motard, ou será vespard?! é q ainda me estou a rir!
para começar acordei às 8:00 e só saí de casa às 8:30, hora de entrada ao serviço! (pensavam q eu ía contar os pormenores do duche matinal!)
hoje foi o primeiro dia q usei a via verde nas portagens da ponte 25 de abril e o dispositivo vem com um elástico standard para colocar no braço, a provar a teoria de que numa mota o condutor é o próprio parabrisas da viatura! o problema é q o elástico é mto grande para mim, e foi um filme só para arranjar uma maneira de levar o dispositivo sem ter de parar na própria via-verde!
depois um trânsito terrível e eu toda contente no meio de duas filas de carros, a fazer alguma ginástica para não levar comigo nenhum espelho retrovisor. e hoje descobri que os motards são grandes cavalheiros... colocam-se atrás de mim e insistem em não me passar à frente, enquanto eu fico ali stressada, a tentar passar o mais rápido possível e com aqueles barulhos de motores potentes mesmo atrás de mim, e só quando eu, já um bocado irritada, lhes ordeno q passem à minha frente, é q compreendem. e normalmente dizem "o q é preciso é ter calma!"
depois veio o estacionamento. o local habitual onde estaciono a mota estava ocupado e a alternativa tinha policias, os malandros. ñ pensem q é fácil estacionar uma mota. aqui na zona do chiado, em ruas inclinadas, as motas estão estacionadas de uma maneira q parece q um guindastre as colocou lá! bem, escusado será dizer q analisei pelo manos dois locais para escionamento de motociclos e nem sequer percebi como deveria fazer para deixar a minha vespa naquelas posições estilizadas. acabei por encontrar um sítio relativamente fácil, só que numa descida. nunca tinha experimentado colocar o descanso central, o tal q ñ é mto fácil, em inclinações. estive uns 10 min a tentar, até q um senhor (a rir-se o suficiente para eu perceber q já estava a observar o expetáculo há algum tempo) me veio ajudar, e eu agradeci claro, até gosto de contribuir para a felicidade alheia e logo pela manhã!
com isto tudo cheguei aqui às 9:00.
bom trabalho e bjnhos

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Sent: terça-feira, 19 de Setembro de 2006 14:27
Subject: Diário de uma Vespa - última edição de verão
Olá meus queridos amigos,
Confessem que já tinham saudades destes diários de aventuras sobre duas rodas!Mas agora já não tem tanta piada, já não preciso de pedir ajuda para estacionar, já fluo entre as filas de trânsito (e ainda não levei nenhum retrovisor alheio para casa!), e já nem preciso de me desviar para deixar passar os outros motards, agora até já consigo abrir caminho para as motas que vêm atrás! Mas nada de selfconfidance a mais, não vá acontecer alguma...
É claro que ainda dá para reparar que sou uma novata nestas coisas, um bocadinho "desengonçada", como diria a Silvia, quando no outro dia viu uma mota tentar sair de um passeio, em direcção à estrada e estava a ver que a desengonçada da condutora não conseguia passar sem bater no carro dela (a condutora era eu, como viemos a descobrir mais tarde!). Mas no fim de contas ela teve que andar um kilómetro até casa da Joana, enquanto eu estacionei em frente à porta, essa é que é essa!
Era só mesmo para cumprimentar e dizer-vos que os arranhões (meus e da vespa) estão a diminuir, prevendo-se um novo capítulo quando começar a chover...
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Sent: quarta-feira, 11 de Outubro de 2006 10:06
Subject: Diário de uma vespa à chuva
A pedido de muitas famílias e tal como tinha prometido, agora que começou a chover a sério, regressa a saga dos Diários de uma Vespa (numa versão mais soft, sem grandes pontos de interesse, i.e., sem grandes momentos hilariantes!)
Esta manhã acordou chuvosa e enquanto tomava o pequeno almoço à janela da cozinha, pensava: vou de vespa ou de beetle? A estrada molhada e a água a saltar dos pneus dos carros não era muito convidativa! "Vá, coragem Rita, é hoje que vais estrear as tuas novas calças impermeáveis", que não são bem próprias de mota, uma vez que essas ficavam-me um bocado gigantescas, mesmo o número mais pequeno! mas são giras e sem referência à mota, até posso ser confundida com os homens do lixo! não, não são amarelas! são pretas com umas riscas reflectoras cinza. muito fashion até!
E lá vim eu de vespa!
A fila de trânsito começava logo a seguir à minha casa e parecia que os deuses tinham aberto os chuveiros para o duche matinal assim que eu saí da garagem! No meio dos carros, com as pessoas abrigadas no interior, senti uma enorme solidão: sózinha, ali debaixo da chuva, parada num semáforo, nem as minhas calças novas me estavam a dar alento. Mas eis que surgiram repentinamente muitos motards, todos com fatos de chuva, formando-se uma fila de motas que foi passando calmamente entre os carros parados. Foi o máximo! Cheguei ao banco seca e a horas! E foi assim que senti que a chuva não me vai estragar o inverno, nem me vai alterar o horário de verão.
Agora que já domino a besta (como diria a Filipa!), e já experimentei o piso molhado, já não há grandes aventuras para contar, mas prometo relatar-vos qualquer acontecimento digno de nota.

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Bom dia my friends!
Este diário é mesmo muito espontâneo, mas não posso deixar de partilhar a aventura que é andar de mota debaixo de chuva torrencial e vento forte! A chuva é o menos, porque com as minhas calças impermeáveis fashion e as minhas luvas de mergulho (são só de 2,5mm, é que as luvas de mota ficam-me mto grandes, mesmo as xs! então achei que umas da cressi me resolviam o problema, e não podia ter escolhido melhor: maleáveis e aderentes!), não há chuva que me molhe. O maior problema é mesmo o vento, que para as motos, em cima da ponte 25 de Abril, mais parece que o vento se vai transformar num tornado e levar as motas pelo ar (até ando a pensar em adaptar um para-quedas à vespa!). É uma verdadeira epopeia atravessar o tejo!
Mas no final, o que conta é que chego a horas e seca ao destino!
Bjnhos

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Sent: sexta-feira, 20 de Outubro de 2006 9:41
Subject: Diário sem Vespa!
Depois de dois meses a fazer o percurso casa-trabalho-casa de vespa, foi uma desilusão o percurso desta manhã, sem vespa!
Depois de passar a noite a ouvir o vento (talvez exageradamente, já que vivo no último andar do prédio!), concluí que o melhor era aproveitar a boleia da minha amiga Sónia e até já estava decidido, quando a minha mãe se deu ao trabalho de me ligar, ainda de madrugada, para dizer. "filha, por favor, não vás de mota hoje, está muito vento para atravessares a ponte". Mães!
Depois da aventura radical que é andar de carro com a sósia do shumacherSónia ao volante, verdadeiramente impróprio para cardiacos, lá cheguei a lisboa, no meio da confusão de chuva, carros, pessoas e chapeus de chuva aos montes, tipo cogumelos coloridos a passear pela cidade.
Depois de ter conseguido, com grande esforço, entrar na carruagem do metro (embora metade do chapeu de chuva tenha ficado do lado de fora!), lá cheguei à baixa-chiado, tipo sardinha enlatada, daquelas com molho, tal era a confusão de chapeus de chuva encharcados a serem espremidos entre a multidão.
Depois de experimentar uma vespa é impossível suportar um suplício destes. Viva as motas e os motards! Viva os fatos impermeaveis e as luvas de mergulho! Viva as Vespas! (não as bestas, Dina!).
Bjnhos

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Sent: segunda-feira, 13 de Novembro de 2006 9:20
Subject: Diário da CBF 250
Bom dia meus queridos!
É com alguma pena, mas tb com algum entusiasmo, que informo que, este fim de semana, troquei a Vespa 250 pela Onda CBF 250! É verdade, fui comprar um capacete novo, lindo, fashion, da BMW, e caríssimo, e acabei por comprar uma mota nova! As más linguas dizem que troquei de mota por causa do capacete, o q não é totalmente verdade, mas de facto o meu novo capacete não condizia mto bem com a Vespa e tem mto mais compatibilidade com a CBF, começando pela cor, cinza metalizado, e acabando no estilo, mto mais moderno e aerodinâmico! Por outro lado, como já passou o tempo das sandálias... no próximo verão se verá!Não é q a CBF seja melhor q a Vespa, q não é. A potência é a mesma, a CBF só tem travão de disco à frente, e a Vespa tem nas duas rodas. A Vespa vem c/ABS e a CBF sem. A Vespa tem montanhas de espaço para arrumação, a CBF nem um milímetro. Mas a CBF faz mto + o meu estilo!
E a partir de hoje, inclusive, já ando por aí de onda, a fazer aqueles barulhos de aceleração do motor para avisar os automobilístas que vou passar. E é bom q tenham atenção, porque isto de andar 3 meses de mota com caixa automática e depois voltar às mudanças não é fácil e a probabilidade de me enganar qundo quero travar é enorme. Aliás, no próprio dia em que saí do stand, caí, numa espécie de cruzamento ao lado de uma rotunda mto perto de minha casa. Queria travar, pressionei a manete errada e acabei por cair. O trânsito da rotundo parou na expectativa enquanto eu me levantei, como se nada fosse, e sem tirar o meu capacete novo fiquei ali a olhar e a pensar "como é q eu vou levantar esta coisa!". Sim, porque apesar de pesar menos 10kg q a Vespa, não a consigo levantar na mesma! Bem, como sempre, uma alma caridosa veio em meu auxílio e levantou-me a mota do chão! E pronto, agradeci, voltei a montar e prossegui o meu caminho, tranquila! Até porque ela, a mota, tem q se habituar a estas coisas e uns riscos personalizados nunca ficaram mal a ninguém!
We'll keep in touch
Bjnhos

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TANZANIA

Estas são algumas das fotos, as minhas eleitas, tiradas pela Filipa, Gonçalo, Joana e Ricardo, em Setembro de 2005, na Tanzania.
Absolutamente fantásticas!
















Acho que merecem ser partilhadas!

TIME BREACK

Volta e meia faço uma pausa para me rir com os dois mails mais divertidos que já recebi:
- Como salvar Portugal da crise
- Diário de uma condutora loira
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PLANO PARA SALVAR PORTUGAL DA CRISE
Passo 1:
Trocamos a Madeira pela Galiza, mas os espanhóis têm que levar oAlberto João.
Passo 2:
Os galegos são boa onda, não dão chatices e ainda ficamos com odinheiro gerado pela Zara (é só a 3ª maior empresa de vestuário). Aindustria textil portuguesa é revitalizada. A Espanha fica encurraladapelos Bascos e Alberto João.
Passo 3:
Desesperados, os espanhois tentam devolver a Madeira (e AlbertoJoão). A malta não aceita.
Passo 4:
Oferecem também o Pais Basco. A malta mantem-se firme e não aceita.
Passo 5:
A Catalunha aproveita a confusão para pedir a independência. Cada vezmais desesperados, os espanhois oferecem-nos: a Madeira, Pais Basco eCatalunha. A contrapartida é termos que ficar com o Alberto João e osEtarras.A malta arma-se em difícil mas aceita.
Passo 6:
Dá-se a indepêndencia ao País Basco, a contrapartida é eles ficaremcom o Alberto João. A malta da Eta pensa que pode bem com ele e aceitasem hesitar. Sem o Alberto João a Madeira torna-se um paraíso. A Catalunhanão causa problemas (no fundo, no fundo, são mansos).
Passo 7:
Afinal a Eta não aguenta com o Alberto João, que entretanto assume opoder.O País Basco pede para se tornar território português.A malta aceita (apesar de estar lá o Alberto João).
Passo 8:
No País Basco não há carnaval. O Alberto João emigra para o Brasil...
Passo 9:
O Governo brasileiro pede para voltar a ser território português. Amalta aceita e manda o Alberto João para a Madeira.
Passo 10:
Com os jogadores brasileiros mais os portugueses (e apesar do AlbertoJoão), Portugal torna-se campeão do mundo de futebol!Alberto João enfraquecido pelos festejos do carnaval na Madeira e Brasil, não aguenta a emoção, e morre na miséria, esquecido de todos.
Passo 11:
Os espanhóis, desmoralizados, e economica e territorialmenteenfraquecidos, não oferecem resistência quando mandamos os poucos querestam para as Canárias.
Passo 12:
Unificamos finalmente a Península Ibérica sob a bandeira portuguesa.
Passo 13:
A dimensão extraordinária adquirida por um país que une a Península eo Brasil, torna-nos verdadeiros senhores do Atlântico, de uma costa àoutra e de norte a sul.Colocamos portagens no mar, principalmente para os barcos americanos,que são sujeitos a uma pesada sobretaxa por termos de trocar os dólaresem euros, constituindo assim um verdadeiro bloqueio naval que os leva àasfixia.
Passo 14:
Eles querem-nos aterrorizar com o Ben Laden, mas a malta ameaçaenviar-lhes o Alberto João (que eles não sabem que já morreu ).Perante tal prova de força, os americanos capitulam e nós tornamo-nosna primeira potência mundial.
É FÁCIL !
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Diário de uma condutora loira
Querido Diário (espectacular)
Passei no exame de condução! Posso agora conduzir o meu próprio automóvel, sem ter de ouvir as recomendações dos instrutores, sempre a dizerem-me "por ai é sentido proibido!" "Vamos em contramão!", "Olha a velhinha!
"Trava! Trava!", e outras coisas do género. Nem sei como aguentei estes últimos dois anos e meio...
8 de Janeiro
A Escola de Condução fez-me uma festa de despedida. Os instrutores nem sequer deram aulas. Um deles disse que ia a missa, julgo que vi outro com lágrimas nos olhos e todos disseram que iam embebedar-se, para comemorar.Achei simpática a despedida, mas penso que a minha carta não merecia tal exagero.
12 Janeiro
Comprei carro, infelizmente tive que deixar o carro no concessionário, para substituir o pára-choques traseiro, pois quando tentei sair, meti marcha - atrás em vez de primeira. Deve ser falta de prática.
Há uma semana que não conduzo!
14 Janeiro
Já tenho o carro. Fiquei tão feliz ao sair do "Stand", que resolvi dar um passeio. Parece que muitos outros tiveram a mesma ideia, pois fui seguida por inúmeros automóveis, todos a buzinar como num casamento..
Para não parecer antipática, entrei na brincadeira e reduzi a velocidade de 10 para 5 à Hora. Os outros gostaram buzinando ainda mais.
22 de Janeiro
Os meus vizinhos são impecáveis. Colocaram posters avisando em grandes letras: "ATENÇÃO ÀS MANOBRAS ", marcaram com tinta branca um lugar bem espaçoso para eu estacionar e proibiram os filhos de sair a rua enquanto durassem as manobras. Penso que e tudo para não me perturbarem. Ainda há gente boa neste mundo...
31 de Janeiro
Os outros automobilistas estão sempre a buzinar e acenar-me. Acho isso simpático, embora um pouco perigoso. É que um deles apontou para o céu com o dedo espetado. Quando procurei ver o que me apontava, quase bati.Valeu que eu ia a minha velocidade de cruzeiro de 10 à Hora.
10 de Fevereiro
Os outros automobilistas tem hábitos estranhos. Para além de acenarem muito, estão sempre a gritar. Não os ouço, por ter os vidros fechados, mas julgo que me querem dar informações. Digo isto porque julgo ter percebido um a dizer "Vai para Casa ". A ser verdade, é espantoso.Não sei como ele adivinhou para onde eu ia. De qualquer modo, quando eu descobrir onde fica o botão de abrir os vidros vou tirar muitas dúvidas.
19 de Fevereiro
A Cidade é muito mal iluminada. Fiz hoje a minha 1ª condução nocturna e tive de andar sempre nos máximos, para ver convenientemente. Todos os automobilistas com quem me cruzei pareciam concordar comigo, pois também ligaram os máximos e alguns chegaram mesmo a acender outros faróis que tinham. Só não percebi a razão das buzinadelas. Talvez para espantar qualquer cão ou gato. Sei lá.
26 de Fevereiro
Hoje tive um acidente.. Entrei numa rotunda, e como havia muitos automóveis (não quero exagerar, mas deviam ser, no mínimo, uns quatro), não consegui sair. Fui dando voltas bem juntinho ao centro, à espera de uma oportunidade, de tal forma que acabei por ficar tonta e fui chocar com o monumento ao centro da rotunda. Acho que deviam limitar a circulação nas rotundas a um carro de cada vez.
3 de Março
Estou em maré de azar. Fui buscar o carro à oficina e, logo a saída troquei os pés, acelerando a fundo em vez de travar.Abalroei um carro que ia a passar, amassando-lhe todo o lado direito. O automobilista era, por coincidência, o engenheiro que me fez o exame de condução.Um bom homem, sem duvida. Insisti em dizer-lhe que a culpa era minha, mas ele educadamente, não parava de repetir: "Que Deus me perdoe! Que Deus me perdoe!".
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E continuam a ter piada!

terça-feira, 6 de maio de 2008

OLIVIAS E SOFIAS II

Depois de me desfazer de metade do conteúdo do meu roupeiro de verão, fiz-me à vida e procurei perceber como posso ficar uma Sofia mais pequenina, sem me esforçar muito, meaning, sem me mexer!
Há dois anos, o alerta dos 55 kg levou-me a enveredar por um programa de tratamentos de endermologia e pressoterapia e chás e uma entediante romaria para as sessões e consultas com uma persistente nutricionista que não me conseguiu vergar. Depois de 3 meses de uma grande canseira, tinha perdido 2,5 kg, o que face ao desembolso, deu uma média de 1.000 euros por quilo. Admito que os centímetros perdidos ficaram um pouco mais baratos, pois, de facto, passei a ocupar menos espaço.
Agora é muito mais grave, porque o alarme só me fez despertar aos 60 kg, e depois da trabalheira que tive há 2 anos atrás, talvez só as terapias mais evasivas deverão funcionar.
“Fazemos uma lipo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui, embora não garanta que aqui consiga o resultado que pretende. Mas podemos compensar com umas sessões de mesoterapia e tenho a certeza que vai ficar satisfeita com o resultado”. Onze mil, setecentos e qualquer coisa euros e mais qualquer coisa cêntimos, é o preço a pagar por um corpo por medida. Os cêntimos são engraçados though!
A alternativa mais baratinha, é uma interminável lista de tratamentos menos evasivos em pacotes de 12 ou 24 sessões, que totalizam cinco mil, blá blá blá, e não sei quantos cêntimos. É que tem mesmo piada os cêntimos!
Esquecendo os preços, utopicamente falando, não sei o que é pior, se os tais hematomas apertados numa tal de cinta, durante um mês, se a tal da romaria, que demora séculos, até esgotar os tais dos pacotes de sessões.
Ora aqui está um enorme incentivo à ginástica!
E, subitamente, até me parece que não estou nada mal.
080506/RS

terça-feira, 29 de abril de 2008

SOU

Sou sol, sou Verão e calor. Não sou frio. Mas sou neve, com ski durante o dia e lareira à noite.
Sou duches de água quente para aquecer.

Sou cheiro de bronzeador. Sou praia à sombra de chapeu de sol. Sou água salgada e areia dourada. Não sou campo, mas sou passeios a pé.
Sou espaços abertos. Não sou multidões.
Sou óculos de sol e cabelos ao vento a viajar para férias. Já fui viajar.
Adoro o cheiro da gasolina nas estações de abastecimento de combustível.
Não sou cheiro de fast-food, mas sou happy meal da mcdonnald’s.
Sou muito sushi. Sou gengibre. Sou queijo e vinho tinto. Sou caipirinha. Não sou cerveja.
Não sou restaurantes com eco. Sou ambientes calmos para comer.
Sou aventura.
Sou roupa interior de algodão. Não sou fibras artificiais em contacto com a pele.
Sou amor, paixão. Sou muito romance. Sou olhares intensos. Já fui menos pelos lugares comuns.
Sou velas acesas. Não sou ocasiões especiais. Sou viver um dia a seguir ao outro.
Definitivamente sou paz, not war.
Sou sinceridade. Detesto angústia.
Sou admiração pela serenidade.
Não sou muito igreja, mas sou respeito por todas as religiões.
Posso ser saudade, mas não sou fado.
Sou melodia, não sou barulho.
Sou versatilidade. Não sou sempre o mesmo estilo.
Sou gorros e luvas no Inverno.
Sou ler, sou escrever. Não sou cinema sem pipocas.
Já fui skydiving, mergulho, tiro ao alvo, squash. Sou nadar. Não sou correr e devia ser um pouco mais pelo ginásio.
Sou todo-o-terreno. Mas também sou turismo no asfalto.
Sou cães grandes. Sou gatos de todos os tamanhos. Sou girafas e elefantes. Não sou hienas. Não sou pássaros, mas sou voar.
Sou branco. Sou muitas cores juntas. Sou castanhos no Outono.
Sou laranjas, toranjas e ananas. Não sou morangos.
Sou tulipas, sou malmequeres e geribérias. Não sou magnólias, mas gosto do cheiro.
Sou odor de baunilha e de canela. Não sou alfazema.
Sou savana e deserto. Não sou trânsito.
Sou mais oriente do que ocidente, e sou África.
Sou tantas coisas mais, e outras tantas não sou.
Sou eu!

O PAI

Hoje visitei a Filipa, no seu 6º dia de vida. Desta vez fiz-me acompanhar da minha irmã, grávida de 5 meses, e da minha mãe, a 4 meses de ser avó pela 1ª vez. Esta tarde a Filipa teve ainda a visita da avó materna, portanto, teve uma assistência de 4 pessoas, enquanto o pai lhe mudava a fralda e a mãe lhe dava de mamar. Mas os pais babados já não estranham a audiência, parece que para verem o primeiro banho da Filipa em casa, a plateia reuniu mais de uma dezena de pessoas, entre os avós, tios, primos e vizinhos.
Ela continua serena entre os choros de aviso de fome. Já os pais são uma mistura de fascínio e medo. Estão encantados com a vida que criaram, mas um pouco mais assustados do que pareciam nas primeiras horas de vida da filha. Uma espécie de desassossego por não saberem muito bem se estão a fazer tudo bem, se há alguma outra razão para o choro, que não a fome, ou a fralda ou as cólicas. Pessoalmente, acho terrificante decifrar o choro de um bebé.
Mas este apontamento não é tanto sobre a Filipa ou sobre a minha inexperiência no que diz respeito à maternidade. Este registo é mais sobre o milagre da paternidade.
Já conheço o Luís há muitos anos, duas décadas talvez. É um homem reservado e de poucas palavras e algumas piadas. À primeira vista reconhecemos uma postura low-profile, que até pode parecer sem grande versatilidade, mas desenganem-se. Já assisti ao seu streapteese em cima de uma coluna, à paciência com que atura uma história sem nexo, à facilidade com que disponibiliza um ombro, à placidez com que constrói uma relação, ao entusiasmo com que me explica praticamente tudo o que sei sobre arte, sobre pintores, escultores, fotógrafos, cineastas ou arquitectos, ao prazer com que se dedica à fotografia, à calma com que lida com o pânico, mesmo que venha a sucumbir ao choque mais tarde, e quando acho que já lhe conheço todas as expressões, eis que surge um novo olhar, um novo sorriso, o de pai. É surpreendente vê-lo embalar a Filipa.

080429/RS

quinta-feira, 24 de abril de 2008

FILIPA

- Pai, veja que horas são – pede a enfermeira.
Como se tivesse sido telecomandado, levantou os olhos para o relógio de parede da sala de partos – onze e vinte e três – disse, ainda que não se tivesse logo apercebido de que ainda era dia vinte e três.
Dia 23, às 23:23, só pode ser um bom presságio! – concluí eu, já no quarto nº 5 do 5º piso do serviço de obstetrícia do Hospital Garcia da Horta.
Cheguei com ansiedade. Afinal foram cerca de nove meses de conversas sobre o primeiro filho da Paula e do Luís. A primeira ida ao médico com a Paula. A escolha do nome assim que se soube o sexo e a apreensão do futuro pai à preferência da futura mãe (uma música dos Enapá2000 não abonava a favor do nome Alice). A barriga a crescer e a confirmação da minha expectativa de que a Paula seria uma daquelas grávidas que não nos apercebemos de que está grávida quando a vemos de costas, alta e com uma barriga redonda e saliente.
Nas últimas semanas achava muito estranhos os movimentos da Filipa contra o que parecia, uma fina camada de pele esticada. De facto, ao vê-la cá fora, perguntei-me como coube ela naquele pequeno espaço durante tanto tempo. Acho até que quando se estica, como se espreguiçasse muito, é para compensar as limitações de espaço que teve até ontem.
A probabilidade de encontrar um bebé recém-nascido enrugado e meio deformado, é grande, mas encontrei uma Filipa de 46cm, 3kg, com muito cabelo, umas unhas minúsculas mas a precisarem de ser cortadas, umas pestanas grandes, uns dedos compridos e uma pele rosada. Não faço ideia se se parece com a mãe ou com o pai. Não chora e parece conviver bem com este seu novo meio envolvente. Dorme e come, como todos os bebés, e faz caretas como se estivesse num qualquer sonho invejável.
Quando se entra numa maternidade, há uma espécie de estado de graça no ar. As mães, embora com aparências cansadas, irradiam felicidade, os pais, parece que pairam num estado meio zen, e até as enfermeiras parece que foram tomadas por um acesso de bem-estar e bondade que não se encontra em qualquer outro lugar de um Hospital. É quase escandaloso, vê-las passearem pelos corredores com bebés seguros por um só braço, a distribuírem sorrisos.
Quando olhei para a Filipa esqueci-me, momentaneamente, da mãe. Só fiquei a olhar, fascinada com o resultado da gravidez que acompanhei. A Paula colocou-ma nos braços com um gesto simples e descontraído e eu fiquei a tremer com os 3kg mais pesados que alguma vez senti.
Penso que não existe quadro mais feliz do que uma filha acabada de nascer nas mãos de um pai. Simboliza toda a ternura, protecção, esperança e amor do mundo.
Esta manhã foi assim que acordei: “Rita não sei quanto pesa nem quanto mede mas o maior desafio da minha vida começou ontem e chama-se Filipa...”!

080424/RS

sexta-feira, 28 de março de 2008

AMIZADE

Pensava que a amizade era o melhor e mais simples sentimento do mundo. Pode ser a melhor coisa do mundo, mas pode não ser, de todo, simples.
Achava que só as relações amorosas eram intensas e poderiam provocar dor. Que só as relações profissionais podiam originar tensão e descoberta. Que só as relações familiares podiam ser recheadas de passado e amor. Que só as paixões eram difíceis de avaliar e interpretar. Enganei-me redondamente.
Como uma amiga de infância, uma amizade pode existir desde que nos lembramos de existir ou cheirar a fresco. Pode culminar em momentos de afecto ou de ódio, como foi o caso da minha amiga que dormiu com o namorado da outra amiga. Não deixaram de ser minhas amigas, mas nunca mais se falaram.
Uma amizade pode assentar na entreajuda ou na rivalidade, e pode motivar acessos de compaixão ou de ciúme. Quem já não teve uma amizade que sofreu com o aparecimento de uma terceira pessoa?
Como as conversas de desabafo em final de dia podem ser um calmante, há telefonemas que se podem tornar cafeína durante a noite.
Uma amizade pode fortalecer à distância ou desvanecer-se mesmo debaixo do nosso nariz. Pode ser construída na base da confiança ou da mentira. Pode ser motivo de alegrias ou de tristezas. Pode enaltecer-nos ou assolar-nos. Pode amadurecer ou nunca chegar a crescer.
E como se não bastasse, as relações de amizade, são fáceis de apanhar, como a gripe. Podem proliferar em qualquer meio. No bairro onde vivemos, na escola que frequentámos, no emprego que temos, no ginásio onde vamos, nas viagens que fazemos ou na internet que navegamos. Podem surgir entre sexos diferentes, crenças distintas, interesses divergentes, idades díspares, posses desiguais ou culturas diversas. Como a minha amiga muçulmana, que vive em África, mas que foi a minha experiência de amizade mais intensa, de quem me afastei geograficamente, mas a quem ficarei para sempre ligada. Como o segurança do edifício onde trabalho, que, todos os dias, me recebe com um aconchegante cumprimento. Como o meu amigo hindu, que só viaja em executiva e me faz saltar o coração de expectativa sempre que me visita. Como a minha amiga de sempre e que sempre me acompanha. Como o meu amigo árabe, que vive no médio oriente, mas que, através das tecnologias de informação, parece estar sempre ao meu lado. Como a minha irmã, que não vê com os olhos, mas que me enxerga muito mais.
Afinal, uma amizade é o mais comum, provável, versátil e descuidado dos sentimentos. Desprezamo-lo em detrimento de sentimentos mais raros, inverosímeis, análogos e inquietos, como o amor ou a paixão. Mas no final, a probabilidade de nos iludirmos e desiludirmos com a amizade, é um perigo muito maior, mas inevitável. Quem quer arriscar a não ascender ao estado sublime de ter um amigo?!

domingo, 9 de março de 2008

Jan08 Neve SN




Nov05 Deserto - Sahara - Marrocos














Quem descobriu esta viagem na net foi a Sónia, mas fui eu que fiquei mais entusiasmada com os preparativos. Onde é o ponto de encontro, como lá chegamos, o que levamos para não exceder os 12kg de limite de bagagem, as temperaturas, e mais uma quantidade de coisas a estar atentas para uma viagem com 150km de caminhada sem camas, casas de banho, shoppings ou transportes públicos. No fundo seria uma viagem para refrescar o espírito e aquecer o físico.
Primeira decisão a tomar: vamos de carro ou de avião? Decidimos ir de avião, na Air Maroco, Lisboa – Marrakech, com escala em Casa Blanca. Foi a melhor decisão dado o tempo disponível, apesar do facto do avião de regresso ter sido cancelado por nenhuma razão aparente. Acabámos por regressar via Madrid e chegar a casa umas doze horas depois do previsto.
Segunda decisão: levamos roupa de Inverno ou de Verão? Decidimos por tee-shirts para o dia e polares para a noite. Óptima decisão para os 25 graus diurnos e os zero, ou negativos, nocturnos.
Terceira decisão: garrafas de água ou purificantes para a água? Decidimos comprar os pequenos comprimidos purificantes de água, mas ainda bem que acabámos por comprar quarenta garrafas de 1,5 litros de água (2 a 3 litros de água por dia por pessoa), porque a água purificada dos poços que encontrámos pelo caminho, deve ter sido uma das principais causas dos desarranjos intestinais de algumas pessoas na expedição.
E as decisões continuaram a ser tomadas para serem testadas quando já não haveria retorno. Sim, porque tínhamos consciência de que não encontraríamos uma boutique no meio do deserto para comprar um casaco mais quente.
Viajámos, devagarinho, num avião a hélice, do qual não me lembro o nome, entre Lisboa e Casa Blanca, e, rapidamente, num boing 737, entre Casa Blanca e Marrakech. Parece um bocado despropositado, mas deve ser o reflexo da opção da maior parte das pessoas, que viaja de carro, de Portugal até Marrocos.
Assim que saí do avião percebi que estava em África (apesar de estar no único país africano que não faz parte da União Africana). Uma África mais próxima, mais clara, mais árabe, mas África. A confusão e o caos não enganam ninguém. Peões, carros, motas e bicicletas que circulam sem regras. Quer dizer, a regra é tentar não ser atropelado! Mas no fundo, a confusão parece ter alguma ordem invisível, porque ninguém se queixa e tudo se movimenta. O movimento nas estradas, nas estreitas ruas da Medina, na praça Jamaâ El Fna, nos suques, em todo o lado.
Tínhamos um jipe à nossa espera no aeroporto, para nos levar ao hotel. Só que não nos deixou propriamente à porta do hotel e foi a altura em que me arrependi de não ter trazido uma mochila ou um trolley, em vez do saco, sem alças nem rodas, que tive de carregar por várias vezes, por aquelas ruas estreitas, apinhadas de pessoas e veículos de duas rodas, mas onde os carros não cabem.
Chegar ao hotel, foi um alívio, daqueles parecidos com chegar à praia da Costa da Caparica e mergulhar na água fria do mar, num fim de semana de Julho, depois de ter estado duas horas no trânsito, dentro de um carro sem ar condicionado.
Ao passar a porta do hotel, que passava despercebida no meio de tantas portas que ladeavam a estreita e movimentada rua, senti-me no meio das mil e uma noites, embora não estivesse lá o Aladino. Uma construção tipicamente árabe, em forma de quadrado, com as janelas dos quartos a darem para um pátio central, como as que se encontram espalhadas pelo sul de Espanha, devido à influência árabe, mas muito mais exótico, mais luxuoso, mais inebriante. As cores, a iluminação, a decoração, fazia parecer tudo muito mais intenso.
O encontro com o grupo que faria a expedição estava marcado para o dia seguinte de manhã, por isso tivemos essa noite para a primeira exploração à cidade, embora não tenhamos ido muito longe, já que estávamos a 5 minutos da praça Jamaa, o centro da animação de Marrakech. Nesta praça o movimento nunca para, quer sejam 10 horas da manhã ou 11 horas da noite. De dia, os sumos de laranja natural e as serpentes encantadas para turista ver. De noite, as kebabs, os contadores de histórias, as músicas, as pinturas de hena. A toda a hora, os suques, com as suas lojas apinhadas de artigos de pele, louça, pratas, especiarias, tecidos, animais e chá de menta. O chá de menta! Até hoje, em nenhum outro local bebi chá de menta fresca como em Marrocos. No hotel, nos pequeninos cafés dos suques, nos restaurantes, no meio das dunas ou das pedras da orla do deserto, à beira da estrada, debaixo de uma tenda, o chá de menta fresca era irrecusável.
Finalmente conhecemos todos os elementos do grupo que partiria na aventura de percorrer 150km, a pé, durante 9 dias.
12 turistas: eu e a Sónia, portuguesas, uma austríaca, uma húngara, duas australianas, uma canadiana, uma americana, uma japonesa e três ingleses, uma rapariga de Londres, um rapaz de Manchester e um outro de New Castle. Mais uma semi-turista, a Gwen, 34 anos, funcionária da empresa inglesa, organizadora da viagem, que fazia a sua última viagem em Marrocos, dado que tinha sido entretanto colocada no Quénia.
Um guia, um cozinheiro e três homens que tratavam dos camelos.
No total, 18 pessoas, 7 homens e 11 mulheres, entre os 24 e os 54 anos, 9 nacionalidades diferentes e 7 camelos.
Para chegar ao ponto de encontro com o acampamento, viajámos durante um dia inteiro, distribuídos em 2 jipes. Atravessámos a cadeia montanhosa do Atlas, almoçámos em Ouarzazat e seguimos para sul, até sairmos da estrada asfaltada e já sem luz do dia durante algumas horas. Lá chegámos algures, onde estavam instaladas 2 tendas grandes, a “cozinha” e a “sala”, de jantar e de estar, que nos iriam acompanhar durante centena e meia de quilómetros.
Ao princípio parecia uma tarefa impossível, montar as tendas iglô, dois a dois, apenas com a luz das lanternas, mas passado algum tempo, depois dos faróis dos jipes já irem longe, os olhos habituaram-se, e afinal é possível fazer tudo com a luminosidade da lua, 13 lanternas pequenas e dois candeeiros a gás, que ficavam dentro das tendas grandes. Iluminadas pelo interior, estas assemelhavam-se a dois grandes cubos assentes no chão, que pareciam pendurados pelo centro do lado superior, devido à estaca central que sustinha as lonas brancas.
A tarefa da montagem da tenda no final do dia, e desmontagem, na manhã seguinte, repetiu-se 8 vezes, e se tivéssemos cronometrado o tempo de montagem da tenda na primeira e na última noite, teríamos ficado surpreendidas. Mas o que mais me assombrou foram as idas ao “wc”, ou à “loo”, termo inglês que acabou por ser usado por todos, já que o inglês foi a língua usada na comunicação. “I am going to the loo”, foi uma das frases que mais ouvi durante aquela semana. Naquelas circunstâncias era importante ir gritando esta frase até ao local escolhido, para que ninguém aparecesse por aquela zona com a mesma intenção. O engraçado é que na primeira noite, os avisos eram persistentes e alongavam-se por muitos metros. Com o passar dos dias, os avisos estavam cada vez mais perto. Na primeira noite, depois de andar quase um quilómetro, ainda achava que alguém me podia ver, ao mesmo tempo que temia estar tão longe, se algum animal rastejante do deserto decidisse aparecer. Na última noite, saí da tenda e quase que fiz ali mesmo. Mas essa também foi a noite mais fria e mesmo que quisesse, não conseguia andar muito sem congelar.

A rotina diária começava bem cedo. Acordar com o despertador “wake up the portuguese girls”, no volume máximo. Fazer a higiene matinal, ao ar livre, com a escova de dentes e os dodot, atrás de uma duna e com um frio do caraças. Desfazer a tenda. Fechar as malas e deixar tudo pronto para ser carregado para cima dos camelos. Tomar o pequeno almoço: cereais, leite em pó, pão, manteiga e chocolate para barrar, café, chá e pacotes de sumo de laranja. As variações incluíam areia ou não!
Deixávamos o acampamento com o guia, o Mustafa, e começávamos a caminhada. No final da manhã, a caravana dos camelos passava por nós e um deles ficava para trás com o cozinheiro. Era o camelo do almoço. Então, no meio das dunas, em cima de pedras ou simplesmente debaixo de uma árvore, almoçávamos.
As refeições baseavam-se em tubérculos e vegetais cozidos ou simplesmente saladas. O jantar incluía uma sopa, a famosa sopa cor de laranja, que soube deliciosamente nos primeiros dias, mas que já ninguém aguentava no final da viagem. Por vezes tínhamos atum enlatado para acompanhar. Tivemos cuscus, e nos primeiros dias, carne guisada. Para sobremesa tínhamos normalmente fruta. E chá, muito chá!
Uma noite fez-se pão! A massa foi amassada e atirada, sem qualquer invólucro, para um buraco feito na terra, mesmo por baixo das cinzas de uma fogueira antecipadamente ateada. E surpresa, um pão delicioso e sem um grão de areia. Unbelievable! Apesar de não termos onde reabastecer a dispensa, não nos faltou pão fresco.
Voltando à rotina diária. Depois do almoço vinha a caminhada da tarde e no final do dia, encontrávamos novamente o acampamento base. As duas tendas quadradas de lona branca esperavam-nos, para voltarmos a rodeá-las de pequenas meias luas azuis e cinzentas.
Montar as tendas, jantar e conviver sem opção até cairmos cansados nos sacos-camas, no chão.

No quarto dia chegámos a um pequeno oásis. Um micro oásis, com meia dúzia de palmeiras na ponta de uma enorme planície de tons castanhos, a anteceder uma estreita passagem, como se fosse a única saída de uma cratera. Nesse local existia um auberge, uma construção de areia, que me fez lembrar os castelos de areia da praia, imagem que me veio à cabeça sempre que me deparei com os casbah, com os seus acabamentos perfeitos. Tivemos direito a duche. De água quase fria, mas duche, o primeiro e único até deixarmos o deserto.
Este local é uma espécie de ponto turístico no roteiro do deserto, pois trata-se de um dos pontos de passagem do ex-Paris-Dakar. Daí as paredes do interior da construção estarem cobertas de fotos, mapas, folhetos e posters com assinaturas de pilotos de rally.
Nessa noite fizemos uma festa, com muita música ao vivo, tocada pelos marroquinos, e muito vodka, um bem valioso, e que por isso estava exposto ao lado das garrafas de água, nas barracas da última vila onde passámos antes de entrar no deserto.
Lembro-me de pararmos numa estação de combustível da BP, e enquanto os motoristas abasteciam os jipes pela última vez, atravessámos a estrada e percorremos a fila de barraquinhas para fazer as últimas compras.
A estação de serviço tinha um café. Entrei para tomar um chá e deparei-me com o que poderia ser um qualquer café central de uma aldeia portuguesa. Vários homens atentos à televisão, que ficaram mudos e olharam para nós curiosos.
Voltando à noite no auberge. A festa foi o máximo e aproveitámos para celebrar o aniversário do David, que passou a chamar-se King David, já não me lembro muito bem porquê. O problema foi voltar ao acampamento. Experimentem fazer trezentos metros numa completa escuridão, apenas com umas pequenas lanternas, e sem qualquer ponto de referência. A lua estava de folga!

Talvez no 5º ou 6º dia, atravessámos uma área de pequenas dunas, seguidas dum imenso palmal. Acampámos ao lado duma pequena aldeia que parecia, literalmente, feita de areia, quase passando despercebida na paisagem. Não visitámos a aldeia por sugestão do guia. Incomodar os habitantes daquele local longínquo, com o nosso ar de turistas curiosos, não fazia parte dos planos. Limitámos-nos a brincar com os miúdos que correram ao nosso encontro, eles sim, muito curiosos.
De costas para o acampamento vi o pôr do sol. A contra luz dos raios baixos desenhava os contornos do poço e da árvore ao seu lado. Uma árvore baixa, de troncos finos e uma ramagem superior achatada. Estou a olhar para uma das fotos que tirei nesse momento, e que tenho exposta na minha sala. Fantástico!

Há um enigma no deserto que ninguém conseguiu desvendar. No local mais amplo e solitário, a probabilidade de aparecerem, sem pré-aviso nem qualquer explicação, um ou muitos miúdos, a correrem, vindo de lado nenhum, para venderem camelos feitos de tecido com missangas ou fósseis do deserto, é enorme.
Afinal sempre tivemos shopping times!

Chegámos a um local perdido no tempo e no espaço. Uma espécie de ruínas, com restos do que pareciam antigas casas, e um poço escondido no meio das pedras.
Montámos as tendas dentro das paredes recortadas e na manhã seguinte eu e a Sónia descobrimos uma aranha gigantesca, quer dizer, grandinha para o que estamos habituadas a encontrar. Instintivamente começámos a gritar, mas não fizemos nada para sair da tenda, que tinha dois conjuntos de fechos para abrir. E do lado de fora o grupo ficou expectante, sem saber o que fazer. “a spider, a big spider”, e pronto começou a risota. Mas era de facto uma grande aranha.
Nesse dia choveu e levantou-se uma tempestade de areia fina, parecida com nuvens de pó, que se metia em todo o sítio. Só nessa altura dei valor aos turbantes na cabeça, que rapidamente se tornam verdadeiras mascaras contra a insistente areia.
A chuva foi ligeira, mas suficiente para tornar um curso de água seco, em lama, uma verdadeira armadilha para os camelos. Carregados, enterraram as suas longas pernas na lama, e não conseguiam sair sozinhos. Tivemos que descarregar os sete camelos, enterrados na lama até aos tornozelos, e com a areia fina a tentar fustigar qualquer pedacinho de pele à vista. Foram algumas horas de aflição, enquanto não vimos os camelos fora de perigo e sem nenhuma perna partida.
Nesse dia, chegámos a um vale espaçoso e plano, no meio de dunas enormes. Foi uma visão extraordinária, porque as dunas tinham aquela tonalidade do final da tarde, douradas, com sombras cobre em curvas com arestas alaranjadas e outras mais amarelas. Só que a tempestade de areia, que já nos acompanhava desde manhã, tornava a paisagem quase turva, como um quadro sépia. Acampámos nesse espaço plano, com um poço delimitado à superfície por uma pequeno muro de pedra, no meio de duas árvores, altas, esguias e com escassa folhagem. Para qualquer dos lados que olhássemos, o horizonte estava num plano acima das nossas cabeças, no cimo das dunas que nos rodeavam.
Foi nesse local que contornei uma duna enorme à procura de um local apropriado para fazer xi-xi, quando me deparei com uma imagem, no mínimo, insólita. 6 pessoas, 3 tendas, 10 camelos e um WC portátil!
Nessa noite fizemos uma fogueira e ficámos à volta dela, a dançar ao som da música árabe, tocada pelos rapazes dos camelos, os dois homens e o rapaz que tratavam dos dromedários. Carregavam os bichos, davam-lhes de comer, normalmente os restos dos nossos vegetais, base da nossa alimentação, dia sim, dia sim, até ao final da longa caminhada. O mais engraçado, é que dormiam com eles. Sim, dormiam sob as estrelas, apesar do frio e do cheiro dos animais. A verdade é que para abraçar o Fluffy, o meu camelo favorito, castanho claro e com patas felpudas, não me importei nada com o cheiro. Também, o que diria ele de mim, quatro dias sem duche, a toalhetes para bebé, e com areia em toda a parte do corpo.
Adiante. Nessa noite da música à volta da fogueira, os marroquinos organizaram um casamento típico, em que eu fui a escolhida para noiva do Hassan, o rapaz dos camelos. O Hassan, era o dono dos camelos, ou irmão do dono dos camelos, ou da família do dono dos camelos, whatever. 23 anos. Muito bonito. Uma espécie de versão moderna de Laurence da Arábia. E achou que estava apaixonado por mim. Como se pode ficar apaixonado por uma turista, no espaço de uma semana, a andar no deserto! Tentei explicar-lhe que eu nem sequer era loira, mas ele achou que eu era a rapariga ideal para oferecer camelos. Recusei as ofertas para conhecer os tais dos camelos, mas nessa altura já não estava tão certa disso, porque no último dia, quando chegámos ao final do tour em regime de acampamento com pensão completa, perto da vila onde ele e os camelos viviam, apareceu-nos todo lavadinho, bem cheiroso e com o seu turbante branco. Parecia uma miragem. Qualquer coisa nos parecia uma visão, depois de 10 dias sem ver qualquer outro ser humano lavado, incluindo nós. Quando digo nós, digo as 11 raparigas, estupefactas, a olhar para o Hassan. Ficavam a observá-lo à distância, com as objectivas das máquinas fotográficas focadas e a comentar “how gorgeos he is!”.
E nada disto o impediu de me ligar para Portugal, uns dias depois, a falar em árabe e francês, línguas que eu domino muito bem se for para dizer salamalecum ou au revoir. Foi um telefonema interessante, uma mistura de português, inglês, francês e árabe, sem tradução possível.

No último dia atravessámos as Dunas de Erg Chebi. Foi uma experiência extraordinária. Parecem apenas dunas de areia fofa, mas subir os 400m, nas arestas serpenteantes, com a areia a fustigar-nos as pernas como agulhas, é um pouco assustador.
Mais uma imagem inesquecível. O nascer do sol projecta diferentes intensidades de luz na areia, dando a ilusão de que as dunas se movem, com as suas sombras e curvas!

Nessa manhã deixámos Mezouga, sobre rodas, passámos em Erfoud e a promessa de um banho estava cada vez mais perto.
Depois de um duche de uma hora, na tentativa frustrada de retirar toda a areia do meu cabelo, percebi que esta tinha sido uma viagem fascinante a não repetir. Como fazer um salto de bungee jumpimg: foi o máximo, já percebi qual é a sensação, ainda bem que fiz, está feito, e não vou repetir!