Saímos cedo rumo ao Norte, e para não ficarmos retidos no trânsito matinal da Ponte 25 de Abril, optámos pela Vasco da Gama e lá seguimos. A1, Porto, Braga, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, onde almoçámos, Ponte da Barca, e entrámos no Parque Nacional Peneda Gerês. Passámos a barragem do Lindoso e a partir daí foi cavalgar pela Serra da Peneda, seguindo as indicações, perguntando a alguma vivalma que se cruzasse no caminho ou apenas por pura inspiração, lá fomos avançando em direcção ao Lugar da Peneda, onde se encontra o Santuário da Nossa Senhora da Peneda. Não foi fácil lá chegar, até porque 25km de serra criam a ilusão de que são 50km e por isso pensámos muitas vezes que estávamos perdidos e já a entrar em Espanha. Mais o meu pai, que influencia negativamente qualquer ambiente com algum positivismo. “Devíamos ter virado à esquerda no último cruzamento”, “Já devíamos ter chegado”, “Não devemos estar no caminho certo”. É de tirar a paciência a um santo, mas o que fazer?! É meu pai, o único que tenho, já com 80 anos, a completar no próximo mês de Novembro, e já não vai melhorar. Comprovo que a vida humana segue um gráfico com o formato de uma pirâmide, e no final da vida, física e mentalmente, volta-se à infância. O corpo fica debilitado, perde-se a visão e a audição, a capacidade de raciocínio cai o comportamento não é muito diferente do de uma criança de 8 anos, que precisa de ser protegida como tal.
E lá chegámos ao vale onde se encontra o Santuário, com as mais de uma dezena de pequenas capelas, a ladearem as mais de uma centena de degraus, até à igreja. Num patamar intermédio entre as escadarias, o Hotel da Peneda, com um interior muito acolhedor e confortável, face às fachadas exteriores em pedra, perfeitamente enquadrado na paisagem local. No cimo de tudo isto um enorme rochedo por onde cai a água como uma cascata. O Lugar da Peneda é de facto muito bonito que merece ser visitado, de preferência com tempo e gosto pelas caminhadas, pois é uma zona propícia para explorar os trilhos da Serra da Peneda.
No dia seguinte fizemos-nos à estrada novamente, desta vez em direcção ao sul e até Oliveira do Hospital.
Os meus tios e prima esperavam-nos no lugar onde vivem, que é em pleno campo. Nem sequer se trata de uma vila ou aldeia, é uma quinta num vale chamado Areeiro, ao qual se tem acesso por uma terra chamada Loureiro, um pequeno conjunto de casas de granito à beira de uma estrada estreita de alcatrão antigo e bastante comido.
No Areeiro existem algumas casas (não chegam a uma dezena), rodeadas de cultivos e pinheiros. Faz-me muita confusão como é que a correspondência chega ao destinatário correcto, uma vez que não existem números de portas, apenas umas quantas caixas de correio à beira da estrada (agora asfaltada), sem qualquer identificação. “Os carteiros são de cá e conhecem toda a gente”, explica-me a minha prima.
A casa da minha tia é muito antiga, com paredes muito grossas, mas já foi aumentada várias vezes para construir um anexo de dois quartos, zonas de arrumação para a lenha e um fumeiro, onde agora estão pendurados os enchidos frescos provenientes da matança do porco que ocorreu há umas semanas atrás. A lenha está sempre a arder, noite e dia, até que os chouriços e as farinheiras fiquem no ponto. Há ainda a casa do Link, o serra da estrela gigante, para o qual e minha prima cozinha grandes panelões de carne, porque ele não se contenta só com a ração.
Acordar no campo é uma espécie de dádiva para quem adormece e acorda o ano inteiro dentro de uma prateleira de um dos armários encavalitados nas grandes cidades. Como dormi no sótão, o piar dos passarinhos bebés nos ninhos feitos entre as telhas do telhado foi uma constante toda a noite. Quer dizer, não deixei de dormir por causa disso, mas acordei com o mesmo que som que me adormeceu. Desci ao pequeno terraço do 1º andar e matei as saudades de tomar um café fresco e espreguiçar com o vale, com as galinhas, os coelhos, a Clara e o Nicolau, i.e., a mão do Link e a gata da vizinha, e com as gentes daquele lugar, que já acordaram há muito e já vão a meio da lida diária do campo. Rijas e com a pele curtida pelo sol e pela geada, parecem-me felizes na sua simplicidade. Pelo que percebi das respostas dos meus tios às minhas perguntas curiosas sobre a vida alheia, há de tudo: vidas permanentes, casas de férias, palheiros reabilitados e transformados em habitações de casais ingleses e holandeses, que animam a vida dos habitantes mais antigos, pela curiosidade e pela engraçada forma de comunicação, enquanto ambas as partes não aprendem o básico das línguas que lhes são estranhas. Mas há também os casais jovens, como a família da Joana e do Rodrigo, 18 e 10 anos, respectivamente. Estudam, navegam na net, jogam playstation, vêem televisão e ainda sabem que as galinhas não nascem nem crescem nos super-mercados. “Mas hoje em dia já é tudo diferente”, diz o meu tio, “já não vão a pé para a escola, a carrinha vem buscá-los pela manhã e trazê-los no final do dia”. Há outras coisas que permanecem iguais, como a carrinha do pão, que chega bem cedo, com a sua buzina de aviso, e o pão fresquinho para o pequeno-almoço!
No dia seguinte fizemos-nos à estrada novamente, desta vez em direcção ao sul e até Oliveira do Hospital.
Os meus tios e prima esperavam-nos no lugar onde vivem, que é em pleno campo. Nem sequer se trata de uma vila ou aldeia, é uma quinta num vale chamado Areeiro, ao qual se tem acesso por uma terra chamada Loureiro, um pequeno conjunto de casas de granito à beira de uma estrada estreita de alcatrão antigo e bastante comido.
No Areeiro existem algumas casas (não chegam a uma dezena), rodeadas de cultivos e pinheiros. Faz-me muita confusão como é que a correspondência chega ao destinatário correcto, uma vez que não existem números de portas, apenas umas quantas caixas de correio à beira da estrada (agora asfaltada), sem qualquer identificação. “Os carteiros são de cá e conhecem toda a gente”, explica-me a minha prima.
A casa da minha tia é muito antiga, com paredes muito grossas, mas já foi aumentada várias vezes para construir um anexo de dois quartos, zonas de arrumação para a lenha e um fumeiro, onde agora estão pendurados os enchidos frescos provenientes da matança do porco que ocorreu há umas semanas atrás. A lenha está sempre a arder, noite e dia, até que os chouriços e as farinheiras fiquem no ponto. Há ainda a casa do Link, o serra da estrela gigante, para o qual e minha prima cozinha grandes panelões de carne, porque ele não se contenta só com a ração.
Acordar no campo é uma espécie de dádiva para quem adormece e acorda o ano inteiro dentro de uma prateleira de um dos armários encavalitados nas grandes cidades. Como dormi no sótão, o piar dos passarinhos bebés nos ninhos feitos entre as telhas do telhado foi uma constante toda a noite. Quer dizer, não deixei de dormir por causa disso, mas acordei com o mesmo que som que me adormeceu. Desci ao pequeno terraço do 1º andar e matei as saudades de tomar um café fresco e espreguiçar com o vale, com as galinhas, os coelhos, a Clara e o Nicolau, i.e., a mão do Link e a gata da vizinha, e com as gentes daquele lugar, que já acordaram há muito e já vão a meio da lida diária do campo. Rijas e com a pele curtida pelo sol e pela geada, parecem-me felizes na sua simplicidade. Pelo que percebi das respostas dos meus tios às minhas perguntas curiosas sobre a vida alheia, há de tudo: vidas permanentes, casas de férias, palheiros reabilitados e transformados em habitações de casais ingleses e holandeses, que animam a vida dos habitantes mais antigos, pela curiosidade e pela engraçada forma de comunicação, enquanto ambas as partes não aprendem o básico das línguas que lhes são estranhas. Mas há também os casais jovens, como a família da Joana e do Rodrigo, 18 e 10 anos, respectivamente. Estudam, navegam na net, jogam playstation, vêem televisão e ainda sabem que as galinhas não nascem nem crescem nos super-mercados. “Mas hoje em dia já é tudo diferente”, diz o meu tio, “já não vão a pé para a escola, a carrinha vem buscá-los pela manhã e trazê-los no final do dia”. Há outras coisas que permanecem iguais, como a carrinha do pão, que chega bem cedo, com a sua buzina de aviso, e o pão fresquinho para o pequeno-almoço!
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